Urologia: Estenose de Uretra

Problema também é uma manifestação decorrente do tratamento do câncer de próstata.

Já é consenso entre os urologistas que o câncer de próstata diagnosticado em sua fase inicial tem melhor prognóstico, com maior probabilidade de cura. De forma inversa, quanto mais tarde a doença é diagnosticada, tanto o tratamento quanto o desfecho podem ser mais traumáticos e complexos.

“Os tratamentos para o câncer de próstata podem apresentar efeitos colaterais, sendo que os mais comuns são a incontinência urinária e a disfunção erétil. Mas a estenose de uretra também é outra manifestação em decorrência do tratamento da doença, sobretudo quando o câncer está em fase mais adiantada ou quando o volume da próstata é grande”, explica o urologista e uro-oncologista Marcelo Bendhack, Presidente da Sociedade Latino-Americana de Uro-Oncologia (UROLA).

Quando o câncer de próstata está em estágio localmente avançado, muitas vezes a indicação é a realização de algum tipo de cirurgia, prostatectomia radical (aberta, através da laparoscopia ou robótica). No caso da prostatectomia radical, uma das consequências pode ser a estenose da uretra — o estreitamento do canal da uretra. Após a cirurgia, pode ocorrer a deposição excessiva de tecido fibrótico como resposta cicatricial, que causa a estenose.

No entanto, mesmo outros tratamentos que não exijam a manipulação cirúrgica podem causar estenose do órgão por uso de sonda ou de equipamentos endoscópicos (introduzidos pela uretra), que podem afetar o tecido uretral, promover fibrose e entupir de forma parcial ou totalmente a uretra.

No caso do HIFU, técnica minimamente invasiva para o tratamento do câncer de próstata, desde seus estudos iniciais o objetivo foi reduzir ao máximo os riscos e efeitos colaterais, entre eles os danos para a uretra. Isto porque o HIFU evitaria lesões para a uretra, pelo fato de ser aplicado pela via retal. No entanto, tal como ocorre em outros tratamentos para o câncer de próstata (radioterapia externa ou braquiterapia, cirurgia radical, ressecção da próstata como alívio para a micção), mesmo o HIFU e a crioterapia estão associados ao risco de desenvolvimento da estenose. Isto é especialmente mais importante no paciente com indicação para terapia de salvamento, por exemplo, no paciente com recidiva após radioterapia.

A estenose também pode ser causada por traumas ou acidentes (fraturas de bacia, “queda a cavaleiro” — quando a pessoa anda sobre um muro e cai nele, sentado, ou mesmo um acidente de bicicleta que traumatiza a região do períneo –, causas congênitas, infecções na uretra por doenças sexualmente transmissíveis, e ainda decorrente de doenças do tecido conjuntivo (como o líquen escleroso).

“No mundo ocidental moderno, a causa mais comum é iatrogênica, por tratamentos médicos, como radioterapia, cirurgias endoscópicas pela uretra, ressecção da próstata, uso de sondas e por dificuldade técnica ao colocar sonda na bexiga. Mas em muitos pacientes a causa não pode ser definida ou encontrada”, relata o urologista.

As principais consequências da obstrução do canal da uretra são o fluxo reduzido de urina, diminuição do jato urinário, sensação de esvaziamento incompleto da bexiga, dificuldade em fazer xixi (como o jato duplo), gotejamento de urina após a micção, necessidade de urinar mais vezes que o habitual, vontade maior de ir ao banheiro durante à noite e ardência no momento da micção.


A estenose da uretra pode ser diagnosticada por exames de imagem, como a uretrocistografia retrógrada (injeção de contraste pelo pênis) com a ajuda de Raio-X para visualizar todo o trajeto dessa via ou ecografia da uretra, ou de laboratório como a urofluxometria, estudo do fluxo urinário. Outro exame possível é a videouretrocistoscopia, visualização direta da uretra e identificação da área doente.

Tratamentos da Estenose da Uretra:

1- Uretrotomia interna: procedimento endoscópico em que se faz um corte no ponto obstruído para alargar ou abrir a uretra. Uma pequena lâmina embutida no aparelho (cistoscópio) corta a região de fibrose. É o método mais indicado para estenoses curtas.

2- Dilatação uretral: sondas uretrais “plásticas” de calibre progressivo fazem a dilatação na região da estenose, elastecendo o tecido fibrótico da estenose a fim de aumentar o diâmetro interno do canal uretral. Alguns pacientes podem fazer a autodilatação, sobretudo quando o procedimento deve ser realizado em intervalos mais curtos. Muitas vezes este método complementa e firma o resultado obtido por um tratamento inicial como a uretrotomia interna.

3- Cirurgia a céu aberto ou uretroplastia: é o procedimento com boa taxa de sucesso, porém mais agressivo. Neste caso, a uretra estenosada pode ser extirpada e os cotos uretrais são novamente unidos com pontos de sutura. Se os pontos ficam muito distantes, enxertos ou tecidos que substituem o tecido uretral (como enxerto de mucosa bucal) podem ser usados.

*Os stents uretraisforam utilizados em casos mais complexos ou para pacientes com mais comorbidades (doenças concomitantes), mas seu uso foi suspenso devido a suas complicações.

De forma parcial ou totalmente obstruída, a estenose da uretra é mais comum em homens com idade acima dos 55 anos. Se não tratada, a estenose da uretra pode causar infecções urinárias de repetição, prostatites, retenção de urina na bexiga e até mesmo insuficiência renal.

Sobre Marcelo Bendhack

Mestre e Doutor em Urologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialização em Uro-Oncologia pela Universidade de Düsseldorf (Alemanha). Especialista pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e Presidente da Sociedade Latino-Americana de Uro-Oncologia (UROLA). Membro do conselho da Federação Mundial de Uro-Oncologia (WUOF) e do corpo clínico do Hospital Nossa Senhora das Graças (Curitiba/PR).

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